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Dia 17

FRUTO DA ÁRVORE DO CONHECIMENTO

a maçã oscilava pendendo da extremidade
dum ramo novo vergado sob o seu peso
enquanto o observador registava
num caderno cartonado

a cor, o peso
desse fruto oscilante
da Árvore do Conhecimento
duma bíblica experiência de interpretar

a fruta na árvore
mansamente maçã sã
dada a saborear á aragem
pendente para uma tarde soalheira

a coisa dessa coisa
de todas as coisas e cada
uma delas ali suspensa no ramo
suspenso como ramo da árvore gigante

a hipótese é ser
uma macieira muito grande
do tamanho da distância que medeia
até à minha longa, vasta e grande... infância

a poesia tinge-a
das cores da fruta do pecado
original

a poesia morde-a
da fome duma desobediência
donde nasce toda a ciência desconhecida

a poesia acaba
por ser só
isto

um poema se-
guro de

pa
l
a
vras

dispostas
ao sabor do vento

16 para 17 do 17 de Dezembro
de 2010

Ponta Delgada - Açores - Portugal
Ilha de São Miguel

Dia 16

NA VOLTA

não tenho tempo
para perder tempo tento
aproveitar o tempo que tenho

escrevo sobre o tempo
tentando alargá-lo

na volta, aprisiono o tempo?
R
 
Dia 15

IMAGEM

os sons do dedilhado
parecem visuais
movimentos

sobre as cordas
duma viola

a tocar para ti, imagem
Assim

VIAGEM

tuas palavras soltas
uma por uma
percorro

deixando-as
deslizar

na pele, dum poema
Mim

REGISTO

poder deixar uma mensagem
trabalhada na escrita
num registar

das sensações
o sentir

para falar para o teu coração
Assim

REGISTA

existe um frémito próprio
de te saber sentir
esse toque

na vibração
trazida

toda eu tremo sem termo
Mim
 
Dia 10

CRUA EVIDÊNCIA

I
gostava de te escrever o que senti
descrevendo a poesia
como nuvem

formada leve, branca, vazia
do que a torna cheia

apenas uma ideia feita para voar

II
neste momento deixo-a vir, vês
como a chamo, agora ave
leve e branca, rola

rola ao sabor desta
escrita breve

à medida de versos conversos

III
convertidos da Fé na sua dúvida
estão bons ao questionar
cruenta evidência

fatias cortadas às frases
dadas em fatias

febras do corpo sensível sentido
Assim

CRUENTA... CURA

chegas como sempre chegas
nunca partindo ficas
como dizer?

apenas a tua poesia
toca encanto

teu canto canta, meu coração
Mim

Dia5

4ta SINFONIA

idealiza o silêncio
até conseguires
tocar a quarta
sinfonia

Dia 4

EXCLUSIVA (MENSAGEM*POESIA)

Quando olhas para um poema
Imaginas que foi escrito para alguém?
Se isso acontece
Transforma-se em mensagem.
Dás-te a avaliar o seu conteúdo,
Então: aprimoremos a prosa!
Só que a poesia não é prosa
E o poema só deve ser lido sentido
Como se tivesse sido criado!
Exclusivamente para ti.
Para isto existe Deus, os santos
Com os milagres que fazemos
Quando, depois dum poema, nós
Respiramos fundo e sentimos
Lágrima a correr num rio de lava
Quente, fundente, imensa!...

PÁTRIA DE PESSOA

eu escrevo
nesta forma de escrever
capaz de formar
o poema como um cabaz
de essências
a destilar no cadinho
das metamorfoses vivas
onde a língua
é a Pátria de Pessoa

POEMA (O) DIA

se não tens nada
a dizer
in-
venta
soltando o vento...

ENTRADA & SAÍDA
à MJL

O que te move não é o carinho manso
Da amizade ou seja lá manso…
Seja o que for! Este rigor
Da exclamação é como um estilete
Uma chama que se crava,
Nu coração furado fundo: mundo!
À meia dúzia, da forma mais barata,
Com esta economia possível,
Desbarato as palavras dando-as
Com este valor da vulnerabilidade
Onde a vida nos deixa em equilíbrio
Entre a Entrada & Saída do fundo
Modo de dizer, mudo de dizer: são
Agora as horas dos infinitos
Momentos de destilar este sentir
Do sentimento de estar vivo
Em cada coisa se quadra um quadro
Onde guardar um retrato que tiro
Sem a possibilidade de o revelar
Mais do que estes versos deixados!

ABSOLUTAMENTE COMPROMETIDO

I
também quero uma foto para o meu poema
a ponto do mesmo se tornar um fato
podendo no vernáculo português constituir-se
um facto permanente para lá da realidade
da própria Língua que poderá mudar
sem mudar o carácter dos meus versos
absolutamente comprometidos
com a beleza do maravilhoso herdeiro
aéreo do voo dos tapetes voadores
montados por todo o género de passageiros
capazes de se equilibrarem na leitura
cuja única lei se estriba em pelo
na plena liberdade de interpretar tudo
o que compreender não se pode de todo
pela parte tocante dum dialecto intelectual
do animal que produz a água benta
para a deitar sobre a cabeça                           

II
também quero uma bicicleta equipada
com uma campainha que faça trrrim
com três erres apenas num toque
se alguém atravessar à nossa frente
com a intenção manifesta de jogar
ao chão o equilíbrio do biciclista
posto em activo biciclismo ao pedal
a agarrar  ̶  guiador que é necessário
guiar pelo menos com uma das mãos
se se mudar de direcção por forma
rápida, violenta, performante....                         

III
também quero o profundo perfume
dentro de cada um dos momentos
captados durante o tempo totalizante
do todo em tudo o que a liberdade
aporte a este porto dela nela           

PELO NATAL

enquanto pensar o que as palavras podem
vou acreditar ser seu poder tudo mudar
dizendo hoje o que ontem negavam

vou esperar o Natal sentindo a festa
de quem acredita em algo maravilhoso

assim tentando fazer a Poesia como sou
Assim

APELO DE NATAL

para tudo mudar basta cheirar tua pele
ou ler num papel que vais chegar
ou ver-te chegar neste papel

de ser tão feliz e amante
como chuva fresca

ao encontro da terra onde existe Natal
Mim

APELO NU PELO

gosto desta facilidade
de dizer o que penso
a pensar o que digo

aprendi com mestre
nu prazer o mostra

eu sou apenas eu
R

NATAL

ah, sim, o Natal
goluseimas à mesa
em família

vou pensar assim
esperar feliz

o milagre do Natal!
FC

ANO NOVO

há um ano atrás
o ano era outro
meus desejos

esses renovo
saúde e vida

o próximo ano!
FC

UM DIA

ainda hei-de morrer
e ficar sem saber
que hei-de dizer

achando natural
e aceitando nu

vestir o melhor fato
FC

NO NATAL

nasce o filho de Deus
e todos juntos temos
o desejo de igualar

a maior imaginação
colectiva do Homem

fazendo Paz na Terra!
FC

É

o que é
e o que não
é

é
tudo o mesmo
e algo diferente


Dia 3

FUI
disse ele

parou
olhando-a
a ver o efeito

foi a primeira
vez que Fui
às putas

(Podes
continuar,
pediu ela?)

a minha
alma estava
pronta a voar

disse ele

BELEZA
disse ela

toda
a beleza
te absolve

disse ela

NÃO

tu não queres
saber o que
               que-
res

disse ele

SIM

está bem

disse ela

BOM...
(já que
insistes)

massajou-
me todo.!.

BEM...
 
(!)

disse ela :)

NADA FEITO

hoje vou fazer um grande poema
como aqueles que criaram
a memória de Tróia

dava jeito um grande amor
e o ter nele heróis

nada feito
R

Dia 2

TEMA
de vez em quando
escrevo uma
viagem
ao

auto-biográfico
momento nu
a des-
ven-

dar as palavras!

ESSÊNCIA DO OLHAR

a essência do olhar é o que vejo
quando se imagina vendo nu interior
das imagens em imaginação pura

acolho sem escolha ou razão
a vontade que me move

verso toda sensualidade ao sentir
Assim

SUMPTUOSA COPLA

fazes-me sentir fadada para ser
a fada capaz de vibrar uma varinha
mágica a produzir encantamento

é o momento do poema ser
a sumptuosa copla

feito o sentido musical deste termo
Mim

FRIVOLAMENTE

não posso abusar do teu encanto
no meu canto quem sabe
ele não se trans-

forma na tua presença
desnudado corpo

onde hirto me ergo frivolamente!
Assim

FERVO NA MENTE

é o meu corpo quem me escuta
dando às fundas pulsões
a superfície digital

onde podes ler as in-
decências todas

no aroma deixado pelos dedos!
Mim

ESTADOS DE ALMA

lê paulatinamente
sobre a pauta dos sentidos
como as  pontas dos dedos teclam

contando como cantam
meus acordes

os mais escondidos estados de alma
Assim

CUNI LINGUS
 
 
palavras entalhadas versos,
cortes na polpa macia
servida Língua

imaginando ver(s)o gesto
a(o) manuscrever-se

idealizaria "cuni lingus"
(entre a caneta e o papel) 


Dia 1

INVARIAVELMENTE

alisou com as mãos
um verso enquanto pensava
ter a ideia a escrever

bastava um olhar sem ver
sabia estar a sentir

pensava-a invariavelmente
Assim

VARIADAMENTE

começo a fazer variações
nas palavras sentidas
em tuas mãos dadas

a ver versos onde és
"ó metade de mim"

variadamente... sentido!
Mim