domingo, 5 de setembro de 2010

DE ZERO A TRÊS

DE ZERO A TRÊS

1
(A) OPALA OPALESCENTE

(imutável Lua, onda ou ode
na mão duma bailarina
pronta a ser escrita)

procura todos os dias
qualquer coisa que não tenhas
sequer a mais remota hipótese de ter
como uma verdade segura
 ̶ imutável como Lua
quando no céu brilha a dar luar à noite
como a vi há pouco quando caminhei
à beira mar num passeio
de pedras em calçada portuguesa
feita por calceteiros
ao longo da estrada que margina
a costa saindo da cidade
prolongando-se
pela ilha até chegar ao outro lado
onde os dois lados se unem
num único lugar onde habito calmo
o pulsar da ilha com a vida
ao ritmo das ondas
feito sentir

havia e há tanta beleza
nas coordenadas tiradas ao luar
que me sentei à mesa
chegado a casa e comecei
um poema que se escreve a si
mesmo como se descrevesse eu
o que pensei e senti
sem memória nem tempo
para ficar preso a algumas palavras
tão semelhantes a estas
assim as tivesse tentado guardar
como aquele imagem
a dar volta ao mundo na volta
onde o poema se faz ̶ onda ou ode

nesta fase da Lua
há uma frase que ainda não veio
escrita em verso nenhum
sonhado por um poeta ou mesmo
pela pedra dum anel
grande parte da vida viajado
 ̶ na mão duma bailarina
a quem o amor se deu presente
encastoado numa jóia
com a qual bailou e dormiu
no dedo anelar

a mesma com a qual sonho
imprimindo o ritmo bom ao verso
 ̶ pronto a ser escrito
não tarda quase nada mesmo
se considerarmos
o tempo que demorou
vir para casa até o escrever

feito poesia onde irei guardar
bela opala opalescente
a anelar na dança

2
(O) TINTEIRO DOS VERSOS


(natureza poética)
distraiu-me, esqueço, uma coisa destas acontece
padeço de distracção congénita
vinda da nascença
até
morrer
neste esforço
duma atenção dada
à natureza poética holística
com a qual se escrevem as mais belas poesia
onde corre a seiva de toda uma selva de veias
desaguando no cérebro a tempo inteiro
o tinteiro dos versos

3
(UM) ÚNICO VERSO

(o ̶ primeiro ̶ número primo!)

onde escrevi a memória dum deus inexistente!

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