segunda-feira, 20 de julho de 2015

TREME A NASCER


A linha sequencial da costa
Interrompe-se na boca dum rio
Onde ele tem voz para falar
Com o mar que sobe
Nas marés altas trazendo
O aluvião para as suas margens
Onde elas se deixam invadir

A narrativa da ave que voo
Vê essa linha do alto e segue
Acompanhando a costa
Até ao promontório do cabo
Onde movida pelo instinto
Inflete para terra e procura
Um ninho onde tem ovos

Uma nova história começa
Quando nasce o filho da ave
Que se fará pássaro livre
De voar até ao seu infinito
Pessoal e intransmissível
Como se ele fosse uma peça
Genética da sua identidade

Um filósofo ocasional
Contemplando este caso
Resolveu ir até ao cabo
Olhar longamente o mar
E procurou ganhar asas
Atirando-se às vagas
Na rebentação nas rochas

Desaparecido este ser
Que nos contava a saga
Uma ideia afaga a ideia
De ser corpo e sua alma
Pronta a entregar-se
Inteiramente ao sonho
Ir acordar ao acordar

Tremendamente chato
Ter de adoecer ao chocar
Para ter a temperatura
Certamente a mais certa
(mas, sobre este facto,
nada sabe quem está
ainda para nascer)

Treme no interior do ovo
Tem de partir a casca
À bicada: ter-me a nascer!

16.07.2015

Nota:

Este é um poema intenso que me fez e faz pensar, escrito por ave que conhece o Homem? Escrevi-o há três dias, pode passar-se uma vida, eu posso mudar mas, o poema, será sempre diferente. Motivo suficiente para gostar dele, aqui o dou a ler na voz do rio… a fala(r) com o mar. //www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/publicacoes/index.php

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