40. POR
ESTAS E POR OUTRAS
Tentar surpreender o autor na sua obra,
descobri-lo. Eis o que vou tentar fazer, na página 43 da edição que estou a ler
de "Os Apanhadores de Conchas", Rosamunde Pilcher: «esforço-me sempre
por emular a minha mãe: ser forte e independente de todos. Por outro lado,
sinto necessidade de escrever, e o tipo de jornalismo que escolhi satisfá-la
plenamente. Devo considerar-me uma mulher com sorte. Faço o que me agrada e sou
remunerada por isso. Mas não é tudo. Existe uma compulsão algures, uma força
motriz demasiado intensa para combater. Preciso do conflito de uma ocupação
exigente, decisões, prazos a cumprir… das pressões, do fluxo de adrenalina.»
É sempre um abuso, esta tentativa de
identificar o autor na voz de seus personagens. No entanto, não há como
escapar, vez ou outra, nada da nossa observação falha, vamos à realidade
surpreender a real_idade. Olhamos as palavras para além delas, surpreendemos
quem as escreveu a escrever-se: a escrever_se (qualquer coisa para lá da lógica
comezinha)… escrito, dito e feito, nu, no que fez a pensar-se?
É por estas e por outras que gosto do se (in)condicionalmente,
procuro descondicionar projectando-O palavra
totémica: SE, ideia capaz de dar belíssimo poema: se, num verso, (n)uma
só palavra!
Quem descobre a arte – na realidade – é criador.
Para ser artista, basta criar a arte que consegue ver, adi_vinhar… A arte: uma
visão etílica da realidade!
Cá está, um exemplo aplicado, explicado,
complicado? Sim, porque será sempre um dado estranho, precisa de ser
entranhado.
Os artistas precisam de ser reconhecidos
por outros, precisamos que o leitor se transforme em autor.
Bom, vou deixar de repetir
isto até à exaustão, estou a chegar lá. Exausta? Nem pensar, realista.