um poema que se constrói (peça/ a peça)
um poema que se constrói no teatro
das personagens que vivenciamos actores
para sermos a pessoa e os outros também presentes
falando dum nós onde nos atamos atendendo
ao que nos toca como toca, como fuga, como alimento,
como… onde as palavras se avolumam crescendo
na procura de falar do que fere e aleija ou distorce
mas também o contrário, tudo correndo
como um rio de margens por nós desenhadas
onde os versos correm a água procurando o mar
quando um verso ilumina uma conclusão
a conclusão é o poema ter vindo e chegado
e, tristes, alegres, satisfeitos, preenchidos, ou
o contrário de tudo isso, sabemos que o poema
é um osso que nos alimenta e guardamos
para nele voltar a uma insana vontade de roer
mesmo sem fome, às vezes com fúria, ou
outras tão diferentes dessa e tão outras
como qualquer outra emoção sempre necessária
para sentirmos que a poesia é verdadeira
(recebe-a, como um pensionista, com necessidade)
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