quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A TI

impressões da poesia

houve-me
atentamente

ouve-me atenta
e mente se quiseres

diz como é belo o poema
quando de olhos fechados lês

as impressões da poesia
feitas de ti para ti

sábado, 25 de setembro de 2010

FILOSOFIA (IN)SUFICIENTE

FILOSOFIA (IN)SUFICIENTE

Uma vez que a vassoura tinha vontade própria, estava viva. Estando viva, era diferente das outras, seria mágica?
Ninguém tem dúvida, só pode ser mágica. Para melhor se poder aferir esta certeza, com certeza irei contar como foi, o que foi, aquilo cuja reprodução em palavras é possível.
Entra a nossa história na Filosofia, ao interrogarmo-nos sobre "O que é possível as palavras dizerem?".
Facilmente me esqueceria da vassoura, não fosse a Filosofia insuficiente para compreender o que aconteceu, ficar-me-ei pela descrição da ocorrência.
Eu, como acontece com muitos homens, talvez ainda aconteça mais aos casados? Pouco ajudava em casa, no Natal a minha mulher deu-me uma vassoura, toda bem embrulhada, de presente. Com uma dedicatória, colada abaixo do cabo, "Para um final de ano diferente, esperando um Ano Novo igualmente diferente, a novidade de ajudar a limpar a casa".
Recapitulando, antes mesmo de desembrulhar, já adivinhara qual era a prenda. A nossa filha única já tinha 7 anos e riu da minha cara, na minha frente, com a expressão que terei feito.
Como não costumo fazer rir ninguém, só esse riso... vai-me ajudar a contar de vez a história.
Desembrulhei a vassoura, pousei-a e fui dar dois beijos à minha Maria, num abraço carinhoso e nata_lí_cio... breve. Logo de seguida, peguei na Mariazinha ao colo, dei-lhe dois beijinhos e perguntei: - Ajudaste a Mãe a comprar esta prenda? Resposta: - Fui eu que a escolhi, tem a cor do teu clube de futebol.
Vamos lá... não vou deixar crescer mais o conto, conto já o fim.
Perguntei à minha Maria o que devia fazer com a prenda: - Mulher que devo fazer com a minha vassoura? Ela prestou-se a exemplificar, segurou na vassoura pela parte da escova, deixando pender o cabo até ao chão sem lhe tocar: - Usas primeiro a vassoura como um vedor, para ela te indicar onde deves varrer. Respondi: - Está bem! Peguei na vassoura e o cabo ficou caído na vertical, hesitando escolher qualquer direcção, imóvel. Disse-lhe, deste-me uma "vassoura indecisa". Ela sorriu e respondeu: - Eu bem tento, tive esperança que pudesse ser mágica! Abraçámo-nos os três: Maria, Mariazinha, de novo aproveitando colo, e eu.
Todos rimos juntos, a vassoura sem fazer parte do clube.
Depois do Ano Novo, começarei a usar a vassoura, decidido!
25.09.10

domingo, 5 de setembro de 2010

DE ZERO A TRÊS

DE ZERO A TRÊS

1
(A) OPALA OPALESCENTE

(imutável Lua, onda ou ode
na mão duma bailarina
pronta a ser escrita)

procura todos os dias
qualquer coisa que não tenhas
sequer a mais remota hipótese de ter
como uma verdade segura
 ̶ imutável como Lua
quando no céu brilha a dar luar à noite
como a vi há pouco quando caminhei
à beira mar num passeio
de pedras em calçada portuguesa
feita por calceteiros
ao longo da estrada que margina
a costa saindo da cidade
prolongando-se
pela ilha até chegar ao outro lado
onde os dois lados se unem
num único lugar onde habito calmo
o pulsar da ilha com a vida
ao ritmo das ondas
feito sentir

havia e há tanta beleza
nas coordenadas tiradas ao luar
que me sentei à mesa
chegado a casa e comecei
um poema que se escreve a si
mesmo como se descrevesse eu
o que pensei e senti
sem memória nem tempo
para ficar preso a algumas palavras
tão semelhantes a estas
assim as tivesse tentado guardar
como aquele imagem
a dar volta ao mundo na volta
onde o poema se faz ̶ onda ou ode

nesta fase da Lua
há uma frase que ainda não veio
escrita em verso nenhum
sonhado por um poeta ou mesmo
pela pedra dum anel
grande parte da vida viajado
 ̶ na mão duma bailarina
a quem o amor se deu presente
encastoado numa jóia
com a qual bailou e dormiu
no dedo anelar

a mesma com a qual sonho
imprimindo o ritmo bom ao verso
 ̶ pronto a ser escrito
não tarda quase nada mesmo
se considerarmos
o tempo que demorou
vir para casa até o escrever

feito poesia onde irei guardar
bela opala opalescente
a anelar na dança

2
(O) TINTEIRO DOS VERSOS


(natureza poética)
distraiu-me, esqueço, uma coisa destas acontece
padeço de distracção congénita
vinda da nascença
até
morrer
neste esforço
duma atenção dada
à natureza poética holística
com a qual se escrevem as mais belas poesia
onde corre a seiva de toda uma selva de veias
desaguando no cérebro a tempo inteiro
o tinteiro dos versos

3
(UM) ÚNICO VERSO

(o ̶ primeiro ̶ número primo!)

onde escrevi a memória dum deus inexistente!