
Acho que estou no bom caminho, não chega. O caminho dá uma
direcção, não garante o sentido certo. Fazer a pergunta certa não é
querer saber onde fica o ponto de chegada, para que lado está em relação ao
ponto onde estamos vem primeiro. A geografia por onde orientamos as ideias é
muito curiosa, vai da mística à idiotia, da transcendência à coisa. Exacto,
enquanto acto, é um desiderato onde não precisamos desidratar a desatar seja o que for. Embora esteja a
fazer algum esforço, a calma é a alma (de tudo e coisa nenhuma, em nós). Isto para
dizer, enquanto escrevo, como quero ler o que escrevi; ao mesmo tempo, é outro
tempo e o mesmo.
Enquanto a mudança não se torna definitiva, quero antes de
publicar escrever sobre o que escrevi. Conseguindo, ao fazê-lo, qualquer coisa semelhante ao que conseguirei depois de publicar, uma leitura. O que publico já não é só meu, é nosso. Um osso duro de roer, o
esqueleto feito com ideias sobrando das palavras. Uma ideia que tenho sempre
presente é a de que a ficção existe na medida em que se pode tornar realidade,
o que nos leva dos personagens às pessoas e a nos descobrirmos actores. Quanto ao
circo onde ontem me sentava, é hoje um palco do teatro onde a representação se
apresenta hoje e sempre. Tendo como pano de fundo a fala, basta pensar. Quando
não dizemos nada e mesmo assim escrevemos, é como se "eu" fosse o
ectoplasma dum fantasma... a desfazer-se num ataque de asma.
Escrevi frases, histórias, contos breves, com a ideia de poder no
conjunto dos dias acabar por apresentar, primeiro uma personagem, depois mais
para o fim personagens para, com tudo isso, imaginar ter escrito um romance.
Quem gostou, ouvindo a música certa, a imaginação tocando o silêncio, avance,
dance, lendo lentamente ou correndo ao encontro dum prazer, sem prazo. Registando dias do ano, horas do dia,
minutos na Hora!
Ana
("eu" em árabe)