domingo, 19 de dezembro de 2010

DNA

O mágico despoletar do prazer! A chama, a luz que chama, a voz, a palavra, o enunciado, as coisas imaginadas, os nadas: o tudo, ao todo... toda a realidade, os arredores e os limites onde o horizonte se (palavra/escrita) delimita entre o sonho e o desejo. Dos sonhos vagos e insubstanciais, quais ideias perdidas vindo ao encontro do divagar devagar as possibilidades do possível, procurando vislumbrar um pouco de carne no papel solto dos aspectos disseminados pelos quatro cantos dos pontos cardiais, apontando aos colaterais ou indo à matéria da física onde a química actua praticando todas as reacções próprias da sua natureza ígnea na combustão orgânica onde, a vida, não só é possível como tem lugar e cria o espírito que se liberta razão do pensamento na fissão nuclear, atómica experiência, Big-Bang da inspiração através d'ma (DNA) ideia! Uma ideia - comida, ratada, iniciada na carência de algo que se procura para ganhar vida - em diálogo.
Foi quando a ideia do sorriso vertical dum sexo feminino olhou para mim de forma felina, exaltando o cio em auxilio duma carência incoerente, sem carência. Apenas o desejo, essa outra via aquém e para além e intermuscular na força que nos leva, trás, alimenta a/o sonho: como se fosse ele o outro que nos sonha e nos faz sonhar outros com ele, ela, andrógino ser primogénito ao ser, ideia, coisa, qualquer coisa... a palavra vaga, bóia solta, como bóia a desaparecer e aparecer no movimento da vaga, onde, oscilante, sempre outra e a mesma, ondula.
Lambi-te os olhos e senti, debaixo da pele fina das pálpebras, teus olhos tremendo; tremendo tesão me tinha assolado só de pensar te poder tocar e o teu rosto, toda a face, tão próxima. Não abriste os olhos quando baixei a febre os meus lábios sobre os teus, nem me beijaste. Esperaste que voltasse a procurar o movimento debaixo das pétalas onde teu olhar ainda em botão separa a flor do exterior selada pelas sépalas formando o cálice onde bebia e dava a beber a sede de espontâneos beijos.
Deves ter querido que racionalizasse a situação, sem abrir os olhos nem me afastares. Antes me atraindo mais e mais com tua voz exprimindo inexprimíveis notas de aceitação curiosa, irradiando entrega activa à sedução dum acalentar, de quem dá à palavra o alimento do momento, o corpo que o espírito precisa: - Porque me beijas?
- Quis que me conseguisses ver, ouvir, sentir... a irresistível atracção que exerces sobre mim. - Aceitável, disse e beijou-me os lábios que deixara a pairar sobre os seus, bebendo a vibração das suas três primeiras palavras junto à minha boca.

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