quinta-feira, 14 de abril de 2011

COM A PAZ DO SER

A caminho do ponto onde cheguei, cheguei ao ponto onde estou. Vinha como vim, para ficar como hei-de ficar. No Presente a caminho do Futuro vindo do Pretérito Passado, se isto faz sentido? Tudo faz sentido, se o sentido é sentido! Posto isto, o porto fica à beira mar, onde haja mar e porto. O porto não é o porto, é um porto, qualquer porto. Sucede, acontece, regista-se que tudo o que pode ser, pode ser tudo. Quanto a uma pedra não ter ser e o ser não ser uma pedra, é duro e estúpido, como uma pedra? De ideias feitas, está o Inferno cheio! Uma metáfora, a deitar por fora Metafísica! Fiquemos por aqui, uma anotação nota-se havendo alguém que nela notasse que ficámos por aqui? É capaz de ser.

«A maldade me engolia./ Comovido, o sal de minha face/ como mar ardia.», euforia em apoteose! A este comentário, juntar mais uma passagem registada «o torpor/ de haver uma identidade.»
O poeta, autor, não sei se não resistiu, se o fez incólume, certo é convocar os leitores a irmanarem-se com ele «de meu ser,/ do teu,/ do nosso». Transformado em oficiante “Carnívoro”, dum espécie capaz de, chegado aos píncaros, terminar a sua composição: «Falava desgastadas sílabas. / Não sabia se a amava ou a comia.»
Não se vislumbra aceitação, nem conformidade com «desgastadas sílabas», menos um desconhecimento ou hesitação: «a amava ou a comia»? É um exercício de encenação, virado para o excesso e a estranheza, duma “euforia em apoteose!”
Também eu fecho este texto, como se ele fosse detentor da verdade. Afinal, o que este poema nos dá a suspeitar e sugerir! É uma obra que não pede conclusões, nela caminhamos sobre pistas, verso(s) de palavras.
O facto de toda a realidade nos desafiar à objectividade, a encontrar a idade aos objectos com que nos deparamos, paramos neste limiar: daqui se contemple o que nos é dado a contemplar! Entre o excesso e a carência, a coerência é um belo exercício, para procurar a beleza? A beleza é a coerência, a procura que (se) encontra. Parabéns por um texto poético, forte e verdadeiro: capaz de coar a essência…

Pegando em comentário do autor: «foi de um susto» que surgiu o poema, lemos composição que guarda no seu corpo o ritmo onde se move (agita, dança, …) em versos.
As afirmações dentro dum texto, mesmo poético, guardam intacta a necessidade de coerência, é fácil encontrar e chocar com (in)coerências: «poesia vira ácido limão/ quando forçada/ goela abaixo/ ouvido adentro», a poesia são as palavras, e, não são todas, são as que reagem com acidez na recepção a elas dada pelo corpo, pela mente.
Não chocar com as palavras, deixá-las deslizar… como ideias, de forma ideal. Continuar a leitura como leito a preceito para ideias «mesmo de um susto/ nasce o poema/ e se faz sensível riso», procuro um “sensível riso”, o prazer é sempre preciso.
«terceira intenção// mesmo fugaz/ o poema fica flutua», onde param a primeira e segundas intenções?

«mora faz morar
na clareira
perto da fogueira
donde se acendem sonhos»

Na primeira flutua e mora, na segunda acende sonhos, na terceira escreve poemas. O importante é descobrir respostas e pode-las cobrir, como se elas dessem seu copo ao nosso espírito! Se não é belo, é bonito! Parabéns!!

Poderia dizer melhor se lesse com mais vagar e atenção, meditando o que escrever? Diria talvez outras coisas, ficando à espera do que pensar fosse? Pensar é, e acontece, vem com o sentir. Dar-lhe tempo, é perder tempo esperando que o tempo passe. Ganhar distância e corrigir a percepção, por que não? Se isso acontecer, quando acontecer! Não podemos ter medo das palavras, devemos domá-las como se fossem feras a quem conseguimos dar meiguice e carinho, se elas deixarem. Não podemos ter medo, mas podemos ter medo, seja ele tão pessoal e próprio que, fazendo parte do sentido, não tem de ser dado ou mostrado. Então? O que mostramos? A certeza das dúvidas poderem ser certezas, o que nos cai nas mãos, quando tentamos apanhar a escrita.

Oi Fla,
Teu poema, tua poesia, chegando a tempo de chegar e ultrapassar, ela bate: a Hora!
Não é a rosa de Hiroxima, é a Rosa abrindo em botão até dar todo o aroma e soltar a imaginação. Vim então deixar um comentário de quem quer crer, mesmo sabendo ser otário e não atravessar o rio. Fico-me por banhar o corpo nas águas que nunca mais voltam, passam e passam a ser outras e só o rio é o mesmo, no seu leito.
Tua poesia, para dar todo o proveito, temos da procurar em seu/teu leito e como tem um leito trabalhado! Apetitoso osso para dar o gozo a quem o quer roer, morder, comer, ser cão abençoado pelo profeta!
Pois é amiga, sei lá o que se pode dizer da poesia!? Bom mesmo é fazê-la, senti-la. O leito é uma mina, destila da nascente: uma só frase, servida inteira, em três estâncias.
Tua confissão «Minto/ no sentimento», um arrebatador momento, abertura sinfónica! O maestro executa a entrada e, logo de seguida, indica a pausa e dá conta do andamento seguinte «mas…» e isso, uma suspensão temporizada no tempo e espaço, abrindo espaço à estância, uma palavra, parte do corpo, todo em si, «falo» erigido, palavra erecta, mostrada, à mostra! Para passar ao “canto final” «da boca/ pra dentro.»
Tempo então de imaginar deixar acontecer: da boca para dentro, da boca para fora… a escrita dando a ler, o que gostaria de ouvir, sentir, ver eclodir em som, voz de vós senhora e dona das palavras, fazendo a fala, da fazenda desses breves e tão intensos versos como as cordas da lira que, tocando, a ideia vibra, delira!
Deves ter publicado com a data do dia, só isso explica a falta de comentários. Belo, obrigado!

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