sábado, 13 de outubro de 2012

CUMPRIR O DESTINO


2.
FIM


(2.) 
Isto não vai acontecer, detesto cumprir destinos. Se puder apanhar um expresso Lisboa/Porto e sair em Coimbra, se isso acontecer, é porque saí desta história e entrei noutra qualquer. Uma regra sobre mim na pessoa de narrador, sentir cada palavra como algo que me determina, pertence e faz – simultaneamente.

Não gosto de sentir estar a falar de mim, sendo perseguida por essa impressão. Se pudesse era um outro, não uma outra, não eu-outro. Um outro, alguém que, não sendo eu, pudesse entender como uma fonte de interesse alheia. Interesse alheio, alguém com interesse para si mesmo ou mesma. Fonte de interesse permanente, contínua. Alheia, alheio de mim com imensa facilidade, fico até perder ideia do que ia… deixei de dizer.

É muito fácil falar por falar, ter prazer em ouvir a nossa voz, sentir essa companhia, esse interesse. Interessa-me este interesse, o interessante do interessar, os meandros deste verbo. As voltas mississipianas de serpentear, sem pressa de chegar. Hoje – neste momento, a ideia não me desagrada. Nem assim, já me desagrada.

Falar por falar baloiçando, baloiçando…



Não consegui evitar, acabei mesmo por escrever.
Não conseguir: é errado registar a negativa antes do verbo, não tentei conseguir. Ia dar no Fim, aos 2?
2? Que número!
Acabei por escrever, dando continuidade, como tinha pensado.

4 comentários:

  1. Leo, oi eu aqui, fazendo de "produtor" da Mina. Acabei de actualizar, bom te encontrar! Beijo (*)

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  2. Mina,

    seu texto é ótimo e não apenas por ser bem escrito (bem escrito, bem desencadeado, flui muito bem) mas também por tocar em um ponto que todos nós temos em comum: absolutamente todos já desejamos ser outras pessoas, ter uma outra história, uma outra identidade! sobre este aspecto a vida virtual é uma maravilha, pois podemos ser quem quisermos a hora que desejarmos, com tanto que assumamos a nossa própria ficção como realidade temporária.

    ideal seria ter, para cada dia um personagem autónomo, uma outra persona.
    fascinante são os heterónimos, que conseguem esta independência quase completa de seus "aparelhos geradores" (os autores) e que só se torna falha por não ser permitido a eles andarem por aí sem um corpo onde possam depositar as suas ideias.
    uma vez, lendo este blog, pensei que o Assim Mesmo deve ter fascinação por fotografias, pois elas representam uma personificação da imagem, coisa que um heterónimo jamais terá, infelizmente.

    existe um texto muito interessante que deu origem a um livro chamado "feriado de mim mesmo", de Santiago Nazarian e se resume a história em «o autor flerta com os limites do indivíduo»

    lembrei dele agora com o seu texto aqui.


    um beijo.

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  3. EMD,
    Em cima da jogada! Seria interessante a Mina refletir na evolução do que parece ser uma história com continuação, um diálogo com o(s) leitor(es).
    «o Assim Mesmo deve ter fascinação por fotografias», gostei da ideia, mesmo sentindo-me ultrapassado pela conclusão, no sentido de não saber se a ela chego, mesmo amanhã ou depois.
    «O bom dos comentários, isso leva-me à consideração sobre o narrador presentificar o leitor: ser sempre, ou permitir, histórias dentro da história; sendo uma boa história muitas histórias, tantas quantas os comentários possíveis das possíveis leituras, até ao infinito? As coisas que um texto nos dá a pensar, como isso pode variar e varia, de dia para dia, de hora a hora, de momento a momento.
    Se eu fosse personagem do autor, não vejo como não ser, inventava-me a pessoa que ele não sendo gostasse de ser. Lá está, seria seu personagem, sendo dela. Já que o narrador é ela.
    Estou-me a "vender" à autora, a "vender a minha imagem?". Quem sabe não sou um vampiro, procurando o sangue da escrita!? Imagino um espelho, nele não tenho imagem. É a certeza de vampiro ser, é giro? Giro…»
    Acabo de surpreender a Mina a escrever, cometo a maior indiscrição!
    Obrigado por vires, seres, estares… presente. Estares, gosta desta palavra assim exposta, aparecendo como um morto-vivo, ganhando uma extra realidade? Vou deitar, para começar o Domingo a horas decentes :))

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