quinta-feira, 5 de maio de 2011

CORPO TODO

CORPO TODO

na viagem que um ramo faz
a outro ramo
o corpo todo da árvore
é um poema

saber olhar a poesia
em folhas
para onde olhas no verde

é sentir o coração solto
a bater no espaço

nu o infinito dum momento

Este poema envolve, necessita de toda uma poética que encarna, torna-se carne no seu nome “CORPO TODO”. É um poema cujo título seria bom para nomear toda uma obra mais vasta, um conjunto. Também está bem para o poema, um conjunto de versos, cada verso uma folha da copa, um galho da armação, uma raiz das raízes, o florir dum botão abrindo em todas as flores que chegam a fruto, passando a fase exuberante de abrir seu pólen ao vento, chuva, insectos, aos pássaros, ao espaço!
Vemos os ramos a mover ao vento, num aceno que dança, o movimento na imobilidade aparente do tronco que cresce afundando as raízes da árvore no seu chão. Dessa imobilidade aparente do tronco o poeta passa aos ramos, tentando esgalhar o poema tendo como ponto de partida a viagem no olhar, olhando «o corpo todo da árvore».
O poema não se esgota nas palavras, nasce delas nascendo das coisas e pelas coisas. Gosto da ideia de «saber olhar a poesia», para poder fazer/chegar o poema. Uma ideia que, antes de ser ideia, é o gosto de que gosto. Pode até ser… algo irracional, algo que não se discute. Não se discute, é algo que se curte:

é sentir o coração solto
a bater no espaço

Todo o poema, podendo guarda como desejo a redenção, tenta viver no último verso uma primeira e última palavra, uma derradeira ou nova ideia, um episódio único na sua história, o essencial da essência, o perfume dum verso final onde ainda SE guarda o que se liberta:

nu o infinito dum momento

O que é que te pediste, o que te pediu o poema, o que te poderá pedir? Os poemas são bons ou maus, como todas as obras, devem ser sempre julgados pelo que dão:

saber olhar a poesia
em folhas
para onde olhas no verde

A poética é a ética da Poesia, a Estética do poema, uma Metafísica do poeta. Cá deixo a prosa, uma leitura, dos versos.

2 comentários:

  1. Francisco,
    Esta ausência parece até ingratidão para quem tão prontamente me escuta. Não é, não de todo, pois que permaneço nos lugares ausentes.
    Estive a actualizar-me nas postagens que ainda não tinha lido. Já o disse, mas reitero, é surpreendente a plasticidade que imprime ao que escreve.
    Hei-de escrever-lhe sobre uma coimbra buliçosa por estes dias da queima das fitas.

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