Tentar surpreender o autor na sua obra,
descobri-lo. Eis o que vou tentar fazer, na página 43 da edição que estou a ler
de "Os Apanhadores de Conchas", Rosamunde Pilcher: «esforço-me sempre
por emular a minha mãe: ser forte e independente de todos. Por outro lado,
sinto necessidade de escrever, e o tipo de jornalismo que escolhi satisfá-la
plenamente. Devo considerar-me uma mulher com sorte. Faço o que me agrada e sou
remunerada por isso. Mas não é tudo. Existe uma compulsão algures, uma força
motriz demasiado intensa para combater. Preciso do conflito de uma ocupação
exigente, decisões, prazos a cumprir… das pressões, do fluxo de adrenalina.»
É sempre um abuso, esta tentativa de
identificar o autor na voz de seus personagens. No entanto, não há como
escapar, vez ou outra, nada da nossa observação falha, vamos à realidade
surpreender a real_idade. Olhamos as palavras para além delas, surpreendemos
quem as escreveu a escrever-se: a escrever_se (qualquer coisa para lá da lógica
comezinha)… escrito, dito e feito, nu, no que fez a pensar-se?
É por estas e por outras que gosto do se (in)condicionalmente,
procuro descondicionar projectando-O palavra
totémica: SE, ideia capaz de dar belíssimo poema: se, num verso, (n)uma
só palavra!
Quem descobre a arte – na realidade – é criador.
Para ser artista, basta criar a arte que consegue ver, adi_vinhar… A arte: uma
visão etílica da realidade!
Cá está, um exemplo aplicado, explicado,
complicado? Sim, porque será sempre um dado estranho, precisa de ser
entranhado.
Os artistas precisam de ser reconhecidos
por outros, precisamos que o leitor se transforme em autor.
Bom, vou deixar de repetir
isto até à exaustão, estou a chegar lá. Exausta? Nem pensar, realista.
Exemplo nada complicado, compilado de sua própria experiência como escritor e poeta, ágil com as palavras, inquieto com os verbos, súbtil com as opiniões dos personagens, vestidas/vertidas na sua própria opinião.
ResponderEliminarTenho acompanhado o seu "Diário" e acho que não há como não "ler" um pouco de você nas coisas de Mina, Assim, Mim e R... porém, vejo que você os respeita como são e que procura dar a eles a voz autónoma de serem afirmativos, participativos, sem se misturarem muito com o que você pensa como autor.
Vejo você os deixar livres para serem suas próprias histórias.
Os autores são os seus personagens? Às vezes.
Os personagens são os seus autores? Sempre!
Um beijo e obrigada pelos momentos de grande literatura do "Diário de Letras II"
ótimo texto. A foto, muito bem bolada...
.*.
Acabei de te ler e comentar, obrigado por tudo! Beijos
EliminarVai surpreender-se quando encontrar-se em suas próprias personagens e reconhecê-las como se elas se, e, o reconhecessem como, se, uma entre elas!... Já não se surpreenderá assim tanto se, se encontrarem onde pode esperar-se que (n)elas se encontrem; vai ser um virar do avesso, mas não avesso ao virar SE… ou virar-se do avesso do avesso do autor ou da personagem ou, ainda, da outra personagem e do outro autor. Se houver partes despidas na escrita e quem as vista, se forem vistas por quem as vê, se isso significar lê, tal como o autor as quer que se mostrem. Não surpreende a necessidade do conflito. Já a Arte etílica da Realidade é uma forma não sujeita a uma forma obediente da realidade e exige uma disciplina capaz de manter o autor e a personagem num perfeito estado de equilíbrio com tendência para o desequilíbrio do correcto, segundo a lei dos equilíbrios com tendência consagrada para condenação dos geniais desequilíbrios, quase sempre reveladores do Artista e da Arte!... É uma visão tendenciosa da realidade fora da realidade do criador sóbrio que não vê um palmo à frente do nariz, dependendo do tamanho, claro, do nariz e do palmo que se sujeita ao tamanho da mão e não da Arte criativa, claramente inalcançável pelo perfeito equilíbrio da água das pedras como repositor das mesmas águas muito cristalinas, sempre e sem vantagens para a questão que não se questiona!... Mas é sempre uma questão de equilíbrios só encontrados na exigência dos desequilíbrios. Um vício se…
ResponderEliminarAbraço
Abraço. Deixarei um comentário graúdo para 2013, Bom Ano Novo!
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