sábado, 30 de junho de 2012

MOBÍLIA


Chegar ao ponto de partida, imaginar partir para o ponto de chegada. Equacionar a circunstância de forma detalhada, tendo como resultado procurar o que este possa ser, antes de lhe dar tempo a que aconteça. As possibilidades duma tal situação só podem agradar, elas vão-se agravando, na exacta medida em que vamos gravando a possibilidade resultante. Dá a imaginar um sistema vectorial, reproduzindo um campo de forças, de modo a obter o ter de forma ob: obtido, observável, óbvio. Se viu quando, por fim, serviu. Sendo melhor dizer, aceitar, creditar, acreditando: servi-o, óbvio, observável, (ob)tido! O ponto ontológico, no ponto final do texto.

O início coincide com o fim, quando o fim é o princípio. Saber quando isto não acontece, é como ler a carta antes da escrever. Desdobrar a folha guardada no envelope, para só então pensar o que nos traz ao ponto onde escrever é praia das letras. Sentir a rebentação, ouvir o canto do mar, domar a ideia procurando na praia linhas onde se desenha o movimento da maré com seu registo do sucessivo recuo da espuma. O aluvião das frases vai de frase em frase, até ficar o texto final, imutável, finito de infinito, imperturbavelmente imóvel como móvel acabado com gavetas fechadas à espera de ser utilizado, só e apenas por quem o queira utilizar, como (se) fosse uma peça de mobília.

2 comentários:

  1. Poeta, o Ser e a ciência da busca, equacionada aditiva não importando o ponto ocupado.Chega às gavetas fechadas e há sempre de abri-las e recomeçar.
    Li um texto otimista,esperançoso, cheio de vida, cheio de vontade e garra.Vi o Poeta Francisco guerreiro. Beijos no coração!

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  2. dois textos que se arrumam na mesma sala! :)
    a decoração das letras faz a casa da palavra ser bem decorada.

    gosto da forma como você começa os textos dizendo a mesma coisa e dá imagens diferentes para os mesmos ângulos, como usar os mesmos móveis, mas arrumá-los de outra forma no antigo espaço.

    o segundo texto tem imagens muito delicadas e belas.
    fiquei com a carta guardada, essa imagem de uma carta que ainda não se escreveu mas que já existe, por causa da vontade em escrevê-la.


    bom domingo,

    um beijo.*.

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