terça-feira, 5 de junho de 2012

FEITIO(S)

«“É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar não só não exprimo  o que sinto como o que sinto se transforma lentamente  no que eu digo...»,

«A distribuição da autora dentro de cada uma das figuras é visível, mas é forçoso acentuar que isto não constitui defeito, porque não há a tirania sobre as personagens, mas um feitio próprio de cada uma delas fotografado em linguagem poética pelo feitio da autora. (...) O cuidado em gravar não o acontecimento, mas o eco interior de cada acontecimento, seduz muito mais Clarice Lispector, verdadeira apaixonada disto que os maus poetas tanto desmoralizam: 'o estado d'alma', esse lugar-comum que aqui se revaloriza e se prestigia», Guilherme de Figueiredo, escrevendo sobre "Perto do coração selvagem", primeiro romance de Clarice Lispector.
Está na hora, dar fechamento ao devaneio e captar do mundo obras de espírito, meros "estados de alma"?

Comentários do Dia 03 de junho de 2012


olara, um castelo de sonhos3 de Junho de 2012 21:04
Li tudo Poeta, concordo que o fim é quando nosso físico já não acompanhar ou nossa vontade acabar.
Ah, os personagens, não fossem eles o que seria de nós?
Já lhe fiz mil, disposta a outros milhares e todos muito belos. Milhões não terei tempo. Das coisas que escrevo quase tudo, lembre-se quase, tem um personagem, o Escritor e Poeta Francisco Coimbra. E dai, como são, onde estão? Só eu sei, as traduções ficam na imaginação de quem lê. O Carlos lê de uma maneira, a Betina de outra, Eleonora de outra, Bípede de outra, Você de outra, outros de outras... Bora comunicar!
Beijos no coração!

Eleonora Marino Duarte3 de Junho de 2012 21:13
Casimiro,
Não costumo me alongar em comentários, mas hoje, cativada diante de sua concepção a respeito da criação de personagens e histórias, gostaria de fazer algumas considerações, se me permite, e deixar formuladas questões para as quais gostaria de ver nascer debate e troca de ideias.
• Penso que acertas quando dizes que a «A prosa, a poesia, de certo modo tudo o que é escrito, ou pode ser, por tanto, escrita, é uma tentativa ou a possibilidade de tentar reproduzir a comunicação. Tal com ela existe, tal como a conhecemos, coisas que queremos dizer, coisas que entendemos, coisas que podem ser em diferido, ou seja, eu escrevo para poder ser lido ou para poder ler o que escrevi». Escrevemos para comunicar, certamente, para deixar as impressões expostas em letras, que bem ditas por Francisco Coimbra, são como pinturas em uma tela. Está certo! Registamos, comunicamos, pintamos as letras e delas e com elas construímos a paisagem, que é a história que queremos contar, que imaginamos comunicar com a grafia das frases. A palavra que se imagina vira imagem que se verbaliza.
• Li e achei que desenvolves maravilhosamente as etapas de uma boa escrita. Acho que a questão de criar um outro que não o “eu” que sou e ter sucesso na empreitada é o que divide as pessoas que escrevem em duas categorias, os cronistas, que são os que registam suas impressões sobre as coisas e que dão suas opiniões e por tanto, não se distanciam de suas personas para poder expor suas ideias e emoções e os Escritores, que são aqueles capazes de criar pessoas dentro da pessoa que são, “outros” que agem e vivem de forma muito diversa da forma de quem escreve e mesmo assim passam a verdade de suas existências a ponto de nos comoverem ou nos encherem de raiva ou medo. Então, estes são os personagens. Quando tu chegas ao “personagem”, que é para mim o cerne de toda a história, falas de uma dúvida com relação a não perceber como os outros criam personagens. A questão: «quem é que está na minha presença quando escrevo a presença de alguém» poderia soar para mim como uma pergunta pertinente. O questionamento me levou a pensar sobre a construção de histórias e personagens. Pego o fio da meada de teu texto e aqui faço a consideração que me parece necessária e ainda arrisco, dando como exemplo o Carlos Coelho. O Coelho, que vem a ser o personagem que identificou autores que supostamente estão a procura de um personagem, bem poderia servir de pano de fundo para a explanação magnífica que aqui está, feita por você. Não no sentido de ser um personagem construído, mas sim no sentido de ser um observador de escritores e desejar ser obra, com começo, meio e fim de uma escrita. Em suma, ter uma história! Ter uma história é o desejo de todo o personagem e ter um personagem é o desejo de todo autor. É aqui que amplio a questão da criação para expor a minha dúvida: um autor busca um personagem e assim tem uma história? Ou um personagem busca um autor para ver garantida a sua história? A criação de histórias transcende a necessidade de criar um personagem? Ou a criação de um bom personagem gera, por sua simples existência, uma história a seu redor?
Deixo um link que me parece interessante para ilustrar a criação de personagens e personalidades, de um gênio da questão:
Parabéns pelo texto e pela colocação das imagens, livros abertos nas mais variadas situações, ilustrando perfeitamente cada um dos tópicos. Muito bom mesmo.
Um beijo.*.

olara, um castelo de sonhos3 de Junho de 2012 21:56
Eleonora, sei que a opinião pretendida é a do Poeta Francisco. Aflita que sou me intrometo e peço desculpas.
Eu acho que nem uma coisa nem outra, autores e personagens surgem quando as almas encontram. Quando há uma empatia dos espíritos, canais de comunicação mesmo à distância, mesmo nas diferenças.
Veja o Francisco e eu, eu e você, é algo natural de pessoas que atraem como parte umas das outras. Confesso que já fiz milhares de personagens do Poeta Francisco e de Você, talvez nem escritos.
Tudo parece meio louco quando eu penso Nele e em Você como nos conhecêssemos numa vida real. É muito estranho, mas quem é capaz de entender ou explicar? Beijos no coração!
Francisco, por favor apague esse comentário, fui demais indelicada em opinar parecendo querer antecipar você. Perdão mais uma vez!


Eleonora Marino Duarte3 de Junho de 2012 23:12
minha querida, já tão querida, bbrian,
eu nem consigo imaginar este blog sem a sua presença, muito menos sem as suas observações! fico muito feliz por você responder e dar a opinião, pois coloquei uma questão que nos envolve, tanto como gente que gosta de escrever quanto como leitores: os personagens, seus desdobramentos, suas histórias e criações. estava mesmo esperando a sua opinião!
acho uma graça a sua delicadeza, a sua preocupação, a sua forma tão doce e gentil de mostrar sempre que respeita o espaço, as pessoas... mas, eu considero que somos amigas, mesmo que virtuais, já nos vejo cercadas da virtude de nos querer bem. então, por favor, comente sempre e se antecipe muito, é sinal de cuidado e deferência para com o que se escreve. e gosto! :)))))
um beijo bem grande.


Anónimo 3 de Junho de 2012 23:24
Francisco, li-te até ao fim com alguma sofreguidão e alma. Porque queria ver como seria o desfecho? Não, não foi só por isso. Foi também porque, à medida que te ia lendo fui acompanhando, bebendo a tua escrita, buscando as tuas interrogações, deliciando-me com as conclusões e com as palavras que ficam sempre em aberto. Ler é uma delícia porque nos alimenta e nos abre a novo mundos, completamente intocáveis até ali. Ler-te é ir descobrindo passo a passo o teu planeta, o teu percurso ao serviço seja de que ideia for. Bebi-te fui bebendo as tuas palavras sabendo que me ia saber bem. Ler-te ou ler é mesmo uma transcendência!!!
A questão das personagens encanta-me também. Aprecio o modo como te desdobras, como te "metamorfoseias", como levas a efeito todas as transmutações, como sabes ser versátil, sem deixares de ser fiel a ti próprio.
Ler é tão íntimo que me atreveria a dizer que é como se fossem dois amantes, num uníssono permanente!
Adorei ler-te sobretudo hoje porque abriste mais janelas, mais varandas, mais pessoas que coabitam no teu interior. Beijos no coração! Gostei mesmo! Jacira


Anónimo 3 de Junho de 2012 23:36
Li-te com sofreguidão e alma!
Deliciei-me com as tuas reflexões, conclusões...!
Abriste mais janelas, muitas janelas, e varandas também!
Apaixonei-me pelas pessoas que habitam em ti!
Bebi-te, embriagei-me com o teu dizer!
Isto da escrita é único! Trascendetal! Ler-te é viajar por esse teu planeta fora, que não tem fim. Nem precisa. Lert-te é entrar em comunhão com qualquer uma das tuas ideias, das tuas personagens, tendo-te como pano de fundo! Ler-te é contagiante e inspirador. É algo muito íntimo, eu nem sei explicar!
Li-te com sofreguidão e encantei-me com o teu dizer...
Boa noite beijos no coração!!!
Jacira Amaral

Anónimo 3 de Junho de 2012 23:40
Francisco, por favor apaga o segundo comentário. Pareceu-me que o primeiro não tinha sido publicado! Jacira

O COELHO DE DÉBORAH4 de Junho de 2012 01:09
Vim comentar mas acabo sendo obrigado a dizer que não percebo, mesmo, seriamente intrigado, o por quê de Jacira querer transformar TUDO o que lê aqui em ato íntimo, ou seja: sexo. Isto é claramente um problema de exibicionismo, sem sombra de dúvidas. Deixa o espaço com um tom de vulgaridade desnecessário e Barthes se revira na sepultura. Compostura é necessária em público, sempre. Não é possível que com tanta intimidade e explícita lasciva, não se possa dizer tais palavras por e-mail, de maneiras que não se comprometa a qualidade da publicação. Se a leitora partilha a cama do autor e quer deixar isto claro para o "público" que crie um blog com suas aventuras sexuaios junto aos mil Franciscos que a possuirem, mas que mantenha por aqui um pouco de compostura. Que vulgaridade, pá!
Não sei quem se diverte com tal situação.
Volto depois.

O COELHO DE DÉBORAH4 de Junho de 2012 01:13
P.S e ainda copia o pordão iluminado de uma das melhores pessoas da internet. Beijos no coração é a assinatura de Bbrian e faça o favor de respeitá-la!

O COELHO DE DÉBORAH4 de Junho de 2012 01:36
Digo: Bordão! Mas bem poderia ser perdão, pois Bbrian é uma doçura de criatura!


olara, um castelo de sonhos4 de Junho de 2012 01:54
Agora que vi os beijos no coração da Jacira. Faz mal não, os beijos dela são dela, os meus são meus. Tá tudo bem Coelho. Beijos no coração a la bbrian!


olara, um castelo de sonhos4 de Junho de 2012 02:05
Carlos, preocupa não, o Poeta Francisco conhece minha escrita de cabeça pra baixo. Sabe que não sei escrever, dos meus erros de concordâncias e tudo mais. Saber da minha escrita é a coisa mais fácil do mundo. Beijos no coração, aliás nos corações também de Déborah e filhos.

 

olara, um castelo de sonhos4 de Junho de 2012 16:12
Carlos, quero esclarecer:
Reli o texto da Jacira, sinceramente achei maravilhoso, digno de uma mulher muito bem resolvida. Assim como Jacira bebeu o texto do Poeta Francisco eu bebi o Dela.
De rompante após sua manifestação me incomodou somente a possibilidade de confundirem eu e Jacira. Da expressão Beijos no coração! não sou dona, Jacira ou outras pessoas podem sim usa-la e não considero desrespeito. Minha intenção é deixar claro que não sou Jacira e isso fica muito fácil perceber, visto que Ela escreve espetacular. Tive sim uma tristeza com Ela uma vez que imaginei que Ela fazia o Francisco sofrer, mas isso é da alçada Deles. Carlos, releia Jacira com um olhar ameno e verá que é uma linda poesia. Beijos nos corações! A Você Carlos corações no plural sempre pensando em Déborah e filhos.

O COELHO DE DÉBORAH4 de Junho de 2012 17:26
Obrigado por sempre ser gentil com minha esposa e filhotes. É muito bom receber teu carinho.

O COELHO DE DÉBORAH4 de Junho de 2012 17:25
Bbrian, sempre tão doce,
deixe que eu esclareça também, quem não gosta da Jacira sou eu, declaradamente e sem sombra de dúvidas! Reler um texto de Jacira seria para mim revirar-me em metáforas sexuais e pouca poesia, encontro tal coisa em revistas masculinas classe c. Veja lá, escrever é mais do que colocar um amontoado de códigos em papel! Requer alma! O que Jacira faz aqui e eu descobri e a denuncio, é fazer o Francisco de escada e de quebra arrumar umas quecas com ele.
Gosto muito de si, Bbrian, mas não me peças para admirar a arrogante e exibida Jacira, não tem a menor possibilidade. Barthes e os desaforos ainda estão entalados na garganta do Coelho e para dizer a verdade, não estou nem um pouco preocupado com a genitália de Francisco, cujo o contato só tive de forma literária lendo o excelente "ERETO FALO", a fora isso, não sou preocupado com quem os homens levam para suas camas, mesmo que tenha opinião formada sobre isso, não a emito nem para os meus parceiros de pocker as sextas. Lamentarei sim se souber que um poeta tão bom e homem de tanto valor, se mistura com mulheres vazias e mal educadas, que tem o orgulho na frente da afeição, aí eu lamentarei. Por aqui meu problema foi a palavra lançada contra mim e contra si também e contra Eleonora, Teca, leitores deste blog. Claro que a palavra lançada contra o Francisco foi terrível mas se ele não liga, isso é lá com ele. Eu ligo, e muito.
Beijinho.

olara, um castelo de sonhos4 de Junho de 2012 17:38
Esqueça isso Carlos, vamos viver felizes, nem lembro mais do acontecido, nem entendo de Barthes, eu também fiz e faço minhas besteiras, um dos meus piores defeitos é ser impulsiva, mas dai 2 minutos esqueço e arrependo tanto. Como é difícil nos policiarmos, nos polirmos.
Beijos nos corações!

Anónimo 4 de Junho de 2012 22:45
Obrigado bbrian por compreender-me e à minha escrita. Cada pessoa tem a sua maneira de se expressar. A minha pode não agradar a Carlos, paciência. Tem todo o direito de dizê-lo, embora eu considere que ele já disse tudo aquilo várias vezes. Torna-se cansativo, repetitivo e tem com um quê de fanatismo.
Francisco volto mais tarde para trocarmos ideias, palavras, versos ou frases. Admiro-te muito e vou continuar a admirar-te. Não tenho por hábito ficar com nada entalado na garganta. Sempre procurei ser livre e limpa. Não quero deixar de ser como sou. Nunca! Estou viva e tenho uma voz, um sonho, uma "filosofia" que são parte de mim. Gosto de mim como sou. Penso que exibir-me não faz o meu modo de sentir o mundo. Essa bola mágica e bela que nos empurra para a frente e que me faz ser melhor, a cada lua que passa.
Há que fazer um hino, um bailado de borboletas etéreas à vida, que só um artista como Deus e a Natureza souberam arquitetar.Um bailado de poalha de oiro ou de sol deslumbrante!
Boa noite, Francisco! Jacira Amaral

O COELHO DE DÉBORAH4 de Junho de 2012 23:47
Hã-hã... Me engana que eu gosto, Amaral. Ainda bem que posso copiar e colar a qualquer tempo as suas palavras aqui mesmo. Sou fanático por coisas claras e limpas, o oposto de ti. Do jeito que falas tenho certeza, és my preciuzzz e desde sempre esteve a zombar do Francisco.

Comentar?
Acho haver uma boa história, o que aqui procuro reproduzir, dando os sucessivos momentos onde nos envolvemos num tempo que deixo em aberto. Digamos, falta haver a resposta do Francisco aos comentários que lhe foram dirigidos. Imagino uma brevidade nas respostas, uma simplicidade e poder de síntese, um desenvencilhar das questões, um prazer notório pelo prodígio, frases cortadas da peça servida, um rodízio?
Sendo eu apenas um personagem-autor, fico ao dispor de poderes divinatórios capazes de me conduzir a um prognóstico cuja certeza raia o absoluto! O Francisco, se não foramanhã, depois de amanhã, voltará ao dia 3 e lá deixará a sua presença/ pertença, frente/ verso, alimento/ progresso. Não levo muito a sério as palavras quando brincar me diverte, provavelmente: diverte-me brincar!  
Bom, a verdade verdadinha verdadeira é que sou personagem mais que autor, quando todos os autores da série masculina dos Contos Breves aqui se juntam em equipe. Por aqui fico, fiquem bem!

A minha amiga acaba de ganhar o 1º Prémio, que tantas vezes lhe é devido, de ser a primeira a comentar a publicação do dia! Dia 3, um dia especial: vem depois do 2, antecede o 4, agradeço a 5!
Uma prenda, medalha ou coisa que a valha, para pôr ao peito: abraço, a_braços!!
Que seria de mim sem você :)
Beijos do coração!


Ligação na foto, à origem recente onde a fui buscar!

segunda-feira, 4 de junho de 2012

CONTINUAR QUALQUER COISA


1 - O IMAGINÁRIO

Na medida do possível o impossível é possível, porque o desconhecido se abre entrando pela abertura que é O conhecido... A palavra leva-nos a um mundo novo, perfeitamente inacabado, onde o começo, a cada momento, se repete, até ao infinito. É bonito pensar que o pensamento anda por aqui, trilha esse caminho... Então, segui-lo, é seguir um percurso do dizer. Escrevê-lo é, de alguma maneira, fazer esse percurso. Como é que se faz o que se desconhece, é mais um paradoxo de todos os paradoxos que, paradoxalmente, nos dão a conhecer a realidade e a aprender com ela, a desaprender de tudo para tudo compreender de forma incompreensível, porque só quando não prendemos as coisas é que as deixamos acontecer pensando. Sendo que o pensamento se faz desta forma possível, ao criar o imaginário como realidade futura do Presente.

2 - TERMINOLOGIA NECESSÁRIA
 
Poesia para Paralíticos é uma forma possível de fazer andar as pedras, contém em si a terminologia necessária para começar qualquer coisa (daqui nasceu o título).

3 - QUEBRANDO O GALHO…

Voo ao encontro de um pássaro que voa
Voo com ele, ultrapasso e crio o espaço
Até encontrar o galho onde poiso
 
E me enraízo na terra onde o sonho dá
 
O encontro entre a minha presença
 
E o pássaro que poisa
 
O galho é a frase e assim a deixo

A definição pessoal (o que é que isto possa querer dizer nesta frase?) de ficcionista, leva-me à próxima definição:

Um bom ficcionista é aquele que nos coloca perante a realidade como se a mesma fosse possível, já que assim nos é apresentada. Um ficcionista que nos desse a realidade como uma ficção, estaria a apresentar uma construção deitada por terra, derrubada…

Sempre que escrevo um texto, poesia ou prosa, estou a tentar dar uma definição duma ideia cuja congeminação gosto de imaginar como prévia. Muitas vezes apenas desperta da emoção, sensação, sentimento, bebendo de diversas raízes, assenta na inspiração: respiração profunda, procurando o perfume de essências chegando indiscerníveis num primeiro momento, captando o aroma, antes de destrinçar a mistura na amálgama.

Amanhã tentarei dar corpo ao que pensei hoje, prende-se com dar vida à vida que existe neste blog, de_vida aos leitores. Hoje deixo a ideia, sigo-a em comentários que me mostram leitor.

ACEDER ACENDER

da Poesia espero
encontrar o recheio
do seu género

sem fronteiras
de género

incendeio o recheio!
Assim

ACENDER ACEDO

uma ideia te ateia
ou várias se compõem
em uníssono

dando um volume
a tua voz pura

onde se apura desejo!
(em) Mim

Eleonora,
Utilizar corpos para ter corpo parece-me uma afirmação plena de sentido pelos sentidos, dos pés aos pelos cabelos!!!
Geralmente dou a palavra ao Assim, acontece assim e isso acontecer vem do surgir ou da insurgência poética, escrita do Assim, é assim o que acontece e gosto de deixar acontecer.
http://betinamoraes.blogspot.pt/2012/06/breve-breviario.html
Ainda agora mesmo, imediatamente antes de aqui voltar. Desta feita sem Assim, sem o recurso de deixar a Poesia. Sem abandonar o desejo de ter a poesia dos gestos, onde ainda a palavra é veículo.
Beijos

O que pensei hoje, logo virei… pelos comentários.

ETÉREA RESPOSTA

Sem pressa, só para fazer conversa, calo-me. Espero uma resposta, recebo espera. Não desespero, a resposta vem, por conta de continuar. Conversando sozinho na presença visível duma ausência, converto-a. A ausência imaginada vai ser real, passando a pesar. A pesar disso revela-se leve, etérea.

domingo, 3 de junho de 2012

COMUNICAÇÃO


1 – Diálogo com uma possibilidade

A prosa, a poesia, de certo modo tudo o que é escrito, ou pode ser, por tanto, escrita, é uma tentativa ou a possibilidade de tentar reproduzir a comunicação. Tal com ela existe, tal como a conhecemos, coisas que queremos dizer, coisas que entendemos, coisas que podem ser em diferido, ou seja, eu escrevo para poder ser lido ou para poder ler o que escrevi. Acontece que, sempre que se escreve em função desta reprodução que há da realidade, damos conta que há alguém que escreveu, e esse alguém que escreveu por vezes apercebemos que não faz sentido nenhum sermos nós, porque nós estamos a escrever uma possibilidade de dizer coisas, coisas que dizemos para ouvir essa possibilidade e por tanto pôr em cena, criar um cenário, de algo que é um diálogo com uma possibilidade.

2 – O que é

O que é que acontece quando tentamos aprofundar essa possibilidade? Bom, podemos dizer que somos nós. Vamos perpetrar desenvolver a actividade de nos identificarmos com o que estamos a escrever, com o que estamos a pensar no momento em que escrevemos. E pronto! Não fazemos mais do que isto, que é tentar assumir um personagem, a pessoa que aparece aos nossos próprios olhos e de quem queira ler o que estamos a escrever, como sendo alguém que se realiza através daquilo que está a pôr por escrito quem escreve. Só que, quando isso acontece, eu sinto-me um proscrito. Alguém que, de certa maneira, se afastou de si próprio. Porque eu quereria pôr-me como um espectador daquilo que escrevo, então é a tal situação de como é que eu consigo ser o personagem que estou a criar, não querendo ser esse mesmo personagem.

3 – Como é

Como é que crio um “outro” que não eu? E (a)parece-me que o processo é sempre o mesmo, porque vou ter que descobrir a realidade que se cria com a escrita, lendo a realidade que outros já criaram e eu posso entender ou tentar entender ou entender sempre de alguma maneira, mesmo que seja uma maneira desentendida de entender os factos, que é: não percebo como é que os outros fazem personagens e nem como, nem o porquê e para quê. Ao fim, ao cabo, é assim, se eu entendesse, não estava para aqui a perder-me nestas cogitações. Ao ponto de… Fazia o que queria e o que acontece seria, passar para o outro. Passar para o dito cujo personagem, o tal processo onde me sinto preso. Um proscrito, ao estar afastado dos outros, está afastado do convívio. Como vou conviver com esta situação de desenvolver uma reflexão no vazio?

4 – Quem é

Se me levasse a algum lado, levar-me-ia a entender quem é que está na minha presença quando escrevo a presença de alguém. Sendo que, esse alguém, não entendo seja eu e também não entendo que não possa ser, que não seja. Ou seja, não entendo de que maneira é que eu posso deixar de ser eu. Vamos aos factos, os factos são estes: 
Quando nos lemos é diferente daquilo que escrevem as outras pessoas, as outras pessoas escrevem como sendo elas, assinam, fazem reflexões, tomam notas, criam seus próprios diários onde anotam leituras, as mais variadas possíveis, por aí vai...
São as suas cartas para este ou para aquele, por causa disto ou por causa daquilo, são felizes com certeza, porque estão a escrever aquilo que lhes vem a cabeça com a perspectiva de tudo que possam querer.

5 – O que acontece

O que acontece quando projectam um outro personagem? Dão-lhe um nome, contam uma história onde seja essa pessoa a mover-se. Dessa maneira, penso eu, criam novos universos, movem-se noutras esferas, duplicam-se, multiplicam-se, recriam-se, criam novas realidades e pronto, é aqui que estou. Será que estou a criar uma nova realidade? Com certeza que não, estou é a problematizar a realidade tal como ela se impõe. Saber se dando um nome novo a esta pessoa que escreve, supostamente projectada de mim ou sem suposição nenhuma... Isto não passa de uma tentativa, a tentativa de conseguir criar um personagem. Só que, é um personagem que tem um interesse tão relativo como dar importância a este facto e conseguir consubstanciá-lo. Então seria uma história, e este personagem estaria a debater-se com este ponto de partida de se afirmar como tendo, por exemplo, autonomia e depois teria que ter interesse este debate que ele tem consigo próprio e por tanto chegaria a um final.

6 – Um final

Ao haver um final há um trânsito, um evoluir e depois, o final encerra a história ou deixa-a em aberto. Como é que se pode encerrar uma história destas, dar uma conclusão a este tipo de preocupação ou ocupação em discernir o que é isto de criar um personagem? Como não consigo ficar feliz com nenhuma solução para o problema, o problema existe. Existe de que maneira? Em que medida? Existe desta maneira, se agora desse um nome à presença deste texto, uma assinatura e teria criado um António, um Belmiro, um Caetano, um Delmino, uma coisa qualquer que pudesse seguir as letras do abecedário, quando chegasse ao Z, dava um salto no espaço e caía de pé sem assentar em nenhum ponto especial, visto que já tinha esgotado as letras todas e por tanto, tinha que criar um abecedário novo, desenhar uma letra qualquer que fosse um símbolo ainda desconhecido. Entrava em órbita, fazia o pino, era muito feliz… se por acaso estivesse muito bem-disposto com aquilo que tinha acabado de fazer. O que acontece é que nunca se chega a um fim numa situação destas que passou a ser um pouco um problema vital, um problema de vida, se assim quisermos, e que vida é essa? É a vida da escrita.
Vida da escrita à qual só de uma forma muito limitada consigo dar corpo, na medida em que coisas como estas que eu estou a viver neste momento, são ideias de paquiderme, uma coisa gigantesca que só tem lugar para mim nos livros. Livros que não sou capaz de escrever, porque não tenho paciência para isto que estou a fazer neste momento. 


7 - Um desafio

Um desafio este de ir pondo palavras no papel, enchendo folhas, folhas, folhas, para ver quem é que tem paciência para ler um texto tão comprido. Porque eu, eu talvez até fosse capaz de o fazer se o texto me fosse mandado por alguém que eu tenha em consideração e no fim tivesse vontade de dizer: Ora sim senhor/a, consegui ler até ao fim e devo-te dizer que não achei que fosse um tempo perdido, porque acho que… porque sim, porque disse, porque deixa, encontrei coisas com interesse como a persistência num tema onde parece que não encontras solução para o mesmo e realmente a solução para a vida continua ainda a ser a Morte e olha, sempre que escrevas textos como este podes mandar, porque acho piada. Agora vamos ver onde é que pia a piada, frases como esta e como aquela… são sempre interessantes e pronto, lá tinha eu que estar a ler o que escrevi, coisa que provavelmente não irei fazer, mas como pode haver sempre o tal amigo que receba aquilo que eu estou a escrever e que tenha paciência de ler, quanto mais não seja para descobrir a tal frase interessante, ou frases ou a persistência de um problema que se vai resolvendo porque, enquanto à vida sabe-se que há-de haver um final e é isso! Se vocês estão aqui e aqui chegaram sem dar grandes saltos de cavalo, é porque ainda devem estar à procura de saber com é que isto acaba. Bom, olha, acaba de morte natural, cansaço, as células todas a estrebucharem, as letras que já não querem sair e pronto, é um ponto final parágrafo.
Um final, nunca é o final.

sábado, 2 de junho de 2012

MESTRE DAS PALAVRAS


«Serei prisioneiro da Lua, filho do Sol, uma comédia de enganos ou somente, uma cristalina lágrima tua...», O Profeta.
Do Profeta até PARA LÁ DOS SENTIDOS, MESTRE DAS PALAVRAS:
«
Dizem que se leva um minuto para conhecer uma pessoa especial,
Uma hora para apreciá-la,
Uma vida para amá-la.
Existem muitas formas de dizer... eu quero-te bem!!! Tenho-o dito de várias, hoje digo-te simplesmente... eu quero-te bem!!!
»
PUBLICADA POR METAMORFOSE EM 07:00 
Em “Para Lá Dos Sentidos” não há comentários, só Metamorfose…
Sou, personagem à procura de autores,
Quero-vos bem!!!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

SIGNIFICADOS USUAIS


«Todos os dias tenham, possam ter, um diálogo que complemente este Diário»,
António de Todos os Santos

Um verdadeiro Diário, daqueles que escapam a serem um registo disperso de impressões ou anotações, as mais diversas, tem sempre a ideia de viagem associada, pois regista uma experiência determinada onde embarcámos/ embarcamos.
Na verdade chamo a este blog “Diário de Letras”, desafiando as palavras a ganharem algum significado mesmo onde o não têm de forma garantida. Um pouco como conseguir respirar fora dum universo conhecido, enfrentando os significados usuais.
De certo modo, este mês, vou fazer um verdadeiro diário. Embarcando num acompanhamento diário... vou tentar, do que possa acontecer neste Diário das Letras II e nos “blogs associados” de quem partilhe leituras. Facto mais curioso, de quem partilhe escritas.
O Coelho conseguiria provar não ser FC, o que se (SE/se) escreve no perfil deste blog, se desse fotos e factos (fatos brasileiros :) da sua existência. Não o desejo, cá... temos o nosso “médico psiquiatra” com licença poética para falar de doentes seus suicidados, isto torna impossível vencer a carapaça de mistério do personagem em que se transforma. Registo, no dia em que, nos transporta "CINCO AUTORES EM BUSCA DE UM PERSONAGEM".
Todos os dias tenham, possam ter, um diálogo que complemente este Diário. Está feia a frase que passa a servir de epígrafe a este diário, cuja expectativa de vida, para já, é chegar ao fim deste mês. Embora tudo indique possa ser apenas um belo despertar para a imortalidade – garantida quando se olha para o horizonte literário – da escrita!

António de Todos os Santos, autor (in)confesso de (série masculina de Contos Breves)...

quarta-feira, 30 de maio de 2012

VEADO!


Estava eu à janela quando um cara parou e me começou a paquerar, eu que era inocente perguntei se ele queria entrar. Foi assim que minha filha ganhou um pai e eu, chifre atrás de chifre, até ele desaparecer.

Zínia

terça-feira, 29 de maio de 2012

PENSAR HIGIÉNICO


As histórias que se prolongam tendem a ser chatas, tenho de pensar ser aqui o princípio, ainda ter de desenvolver o meio, para dar um remate no fim. Concluindo, contar uma história com distinção entre princípio, meio e fim. Uma ofensa para quem é propensa a usar, em vez de "penso higiénico", cone vaginal de grande calibre? Não serve?? Dêem-me uma história que seja só minha!

segunda-feira, 28 de maio de 2012

FIM-DO-DIA


Um pôr-de-sol magnífico, arrepiante: ar_re_pi_ante… ante esta possibilidade, de captar e guardar o fim-do-dia, ficaria bem a modéstia. Quem não a sentisse como uma moléstia, alguém não – tão afirmativa – como eu! 
Peço a um desconhecido que me tire uma foto, vai servir a câmara do meu telemóvel. Imagens destes dias de férias: fêmea fatal – provocando o destino!
Só um casal de velhotes simpáticos, acho que hoje passo bem sem foto. Na verdade, a minha filha que não me suporta, vai aproveitar as que já tenho para… Bom, aproveitando, deixa-me calar! FIM


Zaida

domingo, 27 de maio de 2012

À HORA DO CHÁ


Rodando a sombrinha sentia-me a maior, uma turista inspirada! Andava a ver o meu reflexo nas montras, feliz e contente, inconsequente. Sem pressa, sem fazer compras, completa, sem vícios, toda eu uma adoradora da pose, imaginando a falta que me faz um papparazi capaz de reparar na mulher insuperável, desconhecida, bela e frívola? Como chaleira, que começou a ferver! Felizmente o conto está pronto, vou esperar mais uns minutos e servir-me.

Ynsula

sábado, 26 de maio de 2012

OUTRA MARGARITA


Sob o sombreiro os seus olhos acariciam-me as coxas, entreabro-as. O ar quente ganha lugar, enche a saia, conecta com a fala. Inspiro, semicerro os olhos até se fecharem. Sito… imaginar o sítio, um som fino no fim dum suspiro. Quase me toco, estendo minha mão para a caneta. Parece que o corpo cai pela cadeira abaixo, escrevo de forma estranha. Estendendo o pescoço para olhar, para cima da mesa, ver o que está escrito. Quero outra Margarita! Grito em silêncio, sem barulho, beleza de bebedeira!

Xarif

quinta-feira, 17 de maio de 2012

O

O, de odalisca, ocidental, livre, ideal, idealizada, em trajes do oriente, médio ou longínquo. Chocalham moedas quando agita as ancas, ela vela-se de sedas antigas, com motivos exóticos finamente bordados. Toca um instrumento de cordas, com embutidos de madrepérola. Olhá-la é de suster a respiração, enquanto o coração parece um corcel a correr à rédea solta. Pretos, brilhantes, fosforescentes, seus olhos brilham meu nome.

Ónix

quarta-feira, 16 de maio de 2012

O BEIJO


Leitora que sou, sinto vontade que ele se encontre com ela. O narrador assinalou as características dos personagens, está escrito… irem encontrar-se! Estou frustrada por tantas páginas com descrições marginais, sem o enlace dos corpos se dar. Vou escrever a sua boca vermelha, lábios carnudos, inchados, intumescidos de excitação, erotizados num lamber de língua. Ele vê-a, acabada de entrar na Estação. Breve corrida, segura-a, ela convida ao beijo com os olhos. Beijam-se com paixão!

terça-feira, 15 de maio de 2012

QUADRINHO


Milu, um cãozinho muito inteligente, personagem de banda desenhada. A coincidência com o meu nome, os meus olhos vivos, o olfato apurado que tenho, a franjinha na testa. Dei por mim a olhar para o espelho, a deitar a língua de fora, pôr as duas mãos caídas para baixo, especada a olhar para o espelho, a imitar… a Milu. Finalmente recompus-me. Registo ter rido, será que vou…? Deixo este quadrinho, um episódio bem tolo!

Milu

segunda-feira, 14 de maio de 2012

MIL POEMAS

De mil poemas, possas escolher cem, fazer um livro. Caso não casem entre si, um pedido. Escolhe o que gostarias mais, escreve-o pelo teu punho, guarda-o. Não lhe dês autor, fá-lo teu, completamente. Desse modo serás minha, serei teu; disse ele. Assim seja… este conto, teu e meu, amor.
Linda

domingo, 13 de maio de 2012

A BOCAGE


Já Júlia não sou, a Bocage envio a alma e abandono o invólucro sem dono, sem sono, apago a luz e caio na cama, como um raio! Fico sonhando com um poema erótico onde, bailando no cimo dum mastro, a bailarina exótica, desenha uma curiosa coreografia em espiral, caindo de pé a fazer uma roda, para acabar numa vénia, com a cabeça colada aos joelhos, as mãos segurando as pernas, os cabelos agarrados num rabo-de-cavalo, varrendo o chão. Para se erguerem, numa curva graciosa, ao céu.

Júlia
(graciosa e curiosa)

sábado, 12 de maio de 2012

O DONO


Nada mais sincero do que uma lágrima estúpida, caindo sem autorização dos olhos do "dono". Perco o sono com esta imagem, pensando captar nela a essência da arte. A emoção do outro, tirando lágrimas duma emoção que, sendo nossa, nos escapa. E, sem saber bem o porquê, o quando, o onde, acordamos no instante e nem o queremos ou desejamos, sentimos interesse... O dono é como um forte tomado de surpresa, uma presa!

Irene

sexta-feira, 11 de maio de 2012

CHUVA DE LÁGRIMAS


Já agora vou passar contos que ontem escrevi no exterior dum envelope, duma carta que nem li. Abrindo, ficarei a saber: de quem, para quê? Sei ser algo incomum, feito para contar mais um conto, para quem lê! Fico a ver subir o foguete da exclamação até rebentar, numa chuva de lágrimas…

Hélia

quinta-feira, 10 de maio de 2012

CONTO BREVE


Acordo no fim da noite, principia o dia. Nesta definição nítida, entre o dormir e o acordar. Acordo para uma pequena história, contada da mão para o papel. Ainda chamar penso, chamo-lhe conto breve. Vou fazer o que pensei, o conto acaba, fe(i)to… Falta o nome, mas já está pensado, pronto a ser… passado.

Gabi

quarta-feira, 9 de maio de 2012

QUEIJO


Tornei-me fotógrafa de retratos de rostos por causa de uma ideia, da qual tento fazer breve história. Um texto onde possa contar como as palavras desenham a boca, e, junto com ela, podem espraiar-se a todo o rosto e mesmo ao resto do corpo. Passei a vida a tentar captar emoções, sensações, expressões… para as quais contribuía pedindo palavras que fizessem sorrir, como "cheese" (queijo).

terça-feira, 8 de maio de 2012

NECESSIDADE


A criança embala a mãe que a embala, a mãe acorda, a criança está a dormir. Feito o quadro, deito o bebé no berço pronta a registar este momento. Sinto necessidade física de ir dar um beijo à minha filha adormecida, como se o tecido da sua pele ao tocar os meus lábios desse à vida algo de que ela padece e só sei exprimir com necessidade.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

(A)TINGIDA


Meu nome é Diolinda, não sou de Olinda, mas tenho pena! A solução é ler histórias que me façam viajar; nesta, enterro algumas palavras. Faço-o com o sentido de sagrado que sei, posso, consigo. Consigo? Imagina-se a ver-me como uma criança, enterrando meu canário de estimação? Ah…, por um momento, tem de sentir uma lágrima correr. Precisamente quando, o mais belo gorjeio saído do peito extinto, tinge a minha memória.

Diolinda

domingo, 6 de maio de 2012

RUGAS NA ALMA


Enquanto olhos nos olhos, eu olho-te nos olhos. Os nossos olhos não se olham, nós sim, olhamo-nos. Tenho agora tempo de imaginar os meus olhos a olharem-te, tirei-os, são de vidro.
Quando nos olhávamos, ainda eles eram eu e eu devia aceitar serem eles a olharem-te. A nossa intolerância em relação às coisas faz-me rugas na alma, coisa de palavras.

Celestina

sábado, 5 de maio de 2012

BETINA


Beleza por parte do pai, Tina por parte da mãe; fala dela na terceira pessoa: - Ela tinha pais criativos, os mesmos que ainda tem, capazes de juntar a parte inicial do Pai, no último nome, com o primeiro da Mãe.

Betina

sexta-feira, 4 de maio de 2012

ALBERTINA


Albertina era a minha bisavó, não conheci. Albertina foi minha avó, morreu mais velha que a data de meu nascimento uns precisos dez anos. Aconteceu há dois anos atrás, deixando-me com dez anos a viver sozinha com sua filha, Albertina também. Para não variar, também sou Albertina. Uma concertina de Albertinas: abrindo o instrumento, sai música. Faltava, não vai poder faltar, a concertina de meu pai, Albertino. Morreu em data próxima de eu ir para a escola primária, não entra na minha história essa data. Ou entra, para sair o conto, como fica.
Espero que a história da minha família, assim contada, dê uma redação engraçada. Não gosto muito de coincidências, mas que se há-de fazer, aconteceu tudo, como é e como foi.

Albertina

quinta-feira, 3 de maio de 2012

VERBO DE ENCHER

«Amanhã talvez pegue nesta frase, aquela que agora serve de "verbo de encher", depois da última publicação.»

quarta-feira, 2 de maio de 2012

FAZENDO CONTAS

Contando as letras, os contos, fazendo contas... acabo de verificar ter acabado ontem a série masculina, Acabou com o Zero, nome dos aviões japoneses na última Grande Guerra. 

terça-feira, 1 de maio de 2012

RISCO

Herdei nome de avião assassino, meu pai acordava de noite tendo pesadelos e aos gritos. Isso não impediu minha mãe de engravidar, soube por ela que engravidar era um “risco” associado à terapia por ela levada a cabo: fazer(em) amor. Desse modo, a meio duma noite de pesadelo, fui concebido.

Zero