domingo, 31 de outubro de 2010

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Se o leitor/a souber tanto como o autor, o que fica por contar? Esperança, havemos de lá chegar, esperemos.

«Dormiu com a certeza, acordava com a dúvida»*, p.92 de "Cangaceiros" de José Lins do Rego, edição «Livros do Brasil» Lisboa.
"As frases valem o que valem", como esta e outra e a próxima, qualquer frase. Tudo muda quando, da compreensão da frase, resulta a compreensão do todo.
Hoje, nem ontem nem amanhã, precisamente hoje, acaba mais um mês. Durante o próximo mês publicarei s_obras do mês que acaba hoje: poemas, contos, frases, coisas soltas formando o todo ainda informe, um mês publicado em dois.
Fica a faltar a união dos dois meses num só, um terceiro mês?  A ideia desse "terceiro mês" é, em si mesma, uma ficção: fixar e definir das partes o todo.

REMOALDO & IDALINA
Remoaldo recebera o nome em menino e não tinha pais vivos a quem perguntasse donde vinha a inspiração, nem avós conhecia para tentar tirar a dúvida. Ouvida a dúvida por uma taróloga de nome artístico Zila, apenas receberia por resposta «Há segredos que nem as cartas revelam, devemos viver com eles sem os ignorar».
Querendo e podendo, podemos pedir à imaginação que nos conte uma história. Desejando, a sua história está impressa no nome, como se o mesmo fosse premonitório: Remoaldo, aquele que remói. Fica matutando sobre o que desconhece, porque desconhece o que não conhece do que conhece, o conhecimento da aceitação das coisas tal como elas são:
Remoaldo, um nome ao calhas! Sem qualquer razão? Não, um remoinho a remexer, do centro para a periferia, uma espiral, a procura duma inspiração.
- Remoaldo se for menino, disse o pai;
- Idalina se for menina, disse a mãe.
Zila, como quem se confessa, diz: - Os nomes vêm-nos à cabeça, como se percebe e intui, geralmente por alguma razão. Querer conhecê-la é válida ideia mas, quando esquecida, a resposta tem de ser dada de forma a obter satisfação, não com a ignorância, também não com a certeza, é quando a dúvida pode desempenhar o seu papel.
Remoaldo era o nome dum personagem misterioso, apresenta-se com este nome, talvez o tenha inventado, fugindo a ter um outro qualquer conhecido: uma invenção.
Zila ofereceu uma bebida forte, aproximou-se dele, começou a despi-lo. Enquanto tirava o lenço que usava como turbante, inclinou-se de modo a ele só lhe ver a nuca e foi dando à língua um uso diferente quente e apaixonado. Quando se deitaram para descansar, disse chamar-se Idalina. Coincidências...
(do Tarot para a vida)

* Esta frase aplica-se na narrativa de "Cangaceiros" ao irmão mais novo dum cangaceiro famoso, o rapaz, em muda de idade, após a morte da mãe, pensava: «Mudava de nome e, longe do sertão, viveria a sua vida, fora de todos os perigos» dá-nos a pensar o narrador.

Acredito que já estou a dormir recostado, "Falta só apagar a luz, não tarda, não faltará nada". 

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